No Brasil e nos Estados Unidos: o menorismo como um não lugar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21615/cesp.7399

Palavras-chave:

Menorismo, História da infância, Órfãos do trem, Operação Camanducaia

Resumo

O trabalho analisa e reflete dois fatos históricos que antecederam e precederam o movimento menorista em dois espaços geográficos e tempos históricos diversos. Denominamos menorismo o movimento transnacional que nasceu nos Estados Unidos da América e criou tribunais de menores que passaram a incidir sob a tutela dos menores apartando-os de suas famílias por meio de um processo de institucionalização. A narrativa analisa a política implementada entre os séculos XIX e XX, nos Estados Unidos, denominada órfãos do trem e a Operação Camanducaia, realizada no Brasil, em meados da década de 1970. Este trabalho, derivado pesquisa de cunhos documental, historiográfico e bibliográfico, apresenta um paralelo sobre como duas realidades divergentes tentaram resolver um problema ocasionado pela proibição do trabalho infantil. A não permanência das crianças no chão de fábrica contribuiu para que elas se tornassem um incômodo no centro das grandes cidades. Como resultado parcial, este trabalho conclui que ambos os movimentos estão diretamente relacionados com a implantação do menorismo e com o fracasso do projeto enquanto política excludente e higienista, bem como, com o não lugar de pertencimento deste grupo social, em face da sua não necessária força de trabalho.

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Biografia do Autor

Maria Nilvane Fernandes, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Pós-doutorado em Desenvolvimento Humano e Ciências da Família, Doutora em Educação. Professora Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, Amazonas, Brasil. 

Ricardo Peres da Costa, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Doutora e Mestre em Serviço Social e Políticas Sociais (UEL); Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social (UFPR); Graduada em Serviço Social e Pós-Graduada em Filosofia. Pesquisadora na área de Socioeducação e Sóciojurídica. Membro do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Políticas, Educação, Violência e Instituições (GEPPEvi/UFAM) e do Grupo de Pesquisa em Estudos de Serviço Social, Trabalho e Direitos na Amazônia (Estradas/UFAM). Pesquisador na área de Desenvolvimento Positivo de Jovens na Texas Tech University. Pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (PPGSS/UFAM), financiada por bolsa de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Elizabeth Trejos-Castillo, Texas Tech University (TTU)

Ph.D. Vice-reitor de Assuntos Internacionais - C.R. Professor Hutcheson na Texas Tech University (TTU), Lubbock, Texas, EUA. Professor Adjunto Internacional no Departamento de Serviço Social, Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná-Brasil (2018-presente) e na Faculdade de Medicina, Bioestatística e Epidemiologia (2014-presente) e no Departamento de Psicologia (2012-presente) da Universidade CES, Colômbia (América do Sul). Sua pesquisa se concentra no desenvolvimento positivo de jovens, estresse tóxico, trauma e resiliência em minorias étnicas e raciais e populações carentes usando metodologias comparativas mistas interculturais/internacionais e pesquisa de ação participativa (PAR).

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Publicado

2025-05-24

Como Citar

Fernandes, M. N., Peres da Costa, R., & Trejos-Castillo, E. (2025). No Brasil e nos Estados Unidos: o menorismo como um não lugar: . Revista CES Psicología, 18(2), 130–141. https://doi.org/10.21615/cesp.7399

Edição

Seção

Artículos de Reflexión